É verdade que Jnana Yogis estão constantemente se perguntando
“quem eu sou”?
Com
Swami Niranjanananda Saraswati
Este
é um conceito errôneo. Jnana significa conhecer, e um Yogi é
aquele que está vivendo o que ele conhece. Portanto, um Ynana yogi é
aquele que está estabelecido na sabedoria e tal pessoa não vai fazer perguntas
estúpidas. Quando você viaja de trem de um lugar para outro, não é lógico ficar
perguntando a si mesmo “onde eu estou?”, pois você está se movimentando e sabe
que irá chegar ao seu destino. Da mesma forma, o Jnana Yogi, que está
estabelecido na sabedoria, começa sua jornada com o foco em descobrir “quem eu
sou?”, mas a pergunta surge apenas uma vez na vida, e não todo dia. Se ela
surgisse todo dia, significaria que aquela pessoa não é um Jnana Yogi,
mas que está preso num lugar e não pode seguir em frente. Quando o processo de
descoberta começa, a pergunta é deixada de lado e cada dia é um novo dia. Esta
descoberta continua até que o Jnana Yogi se estabeleça na sabedoria.
Para
se estabelecer em alguma coisa e compreender sua importância, é necessário
passar por um período de crise. Se todos no mundo fossem saudáveis, a medicina
não existiria. Doença, morte e sofrimento levaram a pesquisas e ao avanço da
medicina. Se nós mudamos de ideia, é porque uma ideia anterior foi destruída.
Se há uma mudança na forma de pensar, é porque o pensamento anterior já não tem
qualquer finalidade. A crise age como um catalizador para a mudança.
O
primeiro capítulo do Bhagavad Gita é sobre Vishad Yoga, o Yoga do luto. É um conceito muito
bonito. Se você está de luto e é capaz de fornecer uma direção a si mesmo, isto
se torna Yoga. Se falhar em fornecer
a você uma direção e adentrar no luto, então isso se torna um desequilíbrio. É
como alcançar equilíbrio no estresse. Estresse negativo é chamado de distress,
estresse positivo de eustress, e o ponto de equilíbrio é
zero estresse. Se a corda de um arco está muito frouxa, não há estresse, não há
força e o arco perde sua utilidade. Se a corda do arco está muito apertada, ele
pode quebrar, pois o sofrimento é criado. Deve haver uma tensão certa.
Da
mesma forma, em si mesmo o luto não é negativo ou ruim; é o gerenciamento do
luto que é importante. Se nós somos capazes de dar uma direção para nossos
pensamentos e energias, o luto se torna um fator para se criar uma mudança
positiva e causar grandes realizações na vida. O mesmo luto, quando mal
administrado, se torna uma doença ou desequilíbrio que governa o comportamento do
seu corpo, do cérebro e da mente, gerando transpiração, boca seca, micção
frequente, insônia, esgotamento nervoso.
Todos
deveriam ter a experiência de luto positivo, não o luto como nós o entendemos,
mas no seu sentido positivo, onde se há um desejo de mudança, percebendo-se a
futilidade da condição em que se está vivendo. Quando esse estágio é alcançado,
o processo de purificação começa. Ele aconteceu para Sri Rama, para Arjuna,
para Buddha, para Cristo, para o
profeta Maomé; aconteceu para tantas pessoas que se tornaram luminares no nosso
mundo.
Sabendo
bem que não podemos lidar com isso, nós não nos sujeitamos ao luto. Nosso
esforço intenso, Tapasya, não é o luto, mas o prazer. Nós meditamos,
pois há prazer na meditação. Nós gostamos de praticar Mantra (som ou vibração que libera e eleva a mente), pois há prazer
no Mantra. Se nós não obtivéssemos
prazer na meditação, nós nem a praticaríamos. Se não tivermos prazer de algo,
não somos atraídos a ele. Mas aqui não estamos falando dessas coisas que nos
dão prazer e, portanto, se tornam nosso Sadhana (disciplina ou prática de Yoga), mas daquelas coisas que
nos dão oportunidade de mudar um padrão existente que foi a causa de nossa
condição anterior. Luto é o catalizador para a transformação interior. Como
buscadores, como aspirantes, nós temos que encarar esse luto dentro de nós e
nos dar uma direção.
Há
um conceito muito bonito no Tantra (ciência que busca a evolução da
consciência e da qual deriva o Yoga).
A tradição diz que há onze Rudras que são manifestações de Shiva.
O significado de Rudra é aquele que cria. Como uma pessoa que cria todo
tempo pode ser identificada como uma manifestação de Shiva? Shiva
é consciência e há várias camadas e estágios de progressão nessa consciência,
definindo diferentes níveis de existência e experiência. Da mesma forma, os
onze Rudras representam onze estágios de consciência e cada um tem um
padrão, um desenho especifico, um Yantra (símbolo, figura geométrica) próprio
e uma Mandala (círculo ou representação pictórica redonda) correspondente.
Conforme nos movemos de um para o outro, há um desapego das coisas que
anteriormente nos retinham. Quando essas coisas são deixadas de lado, o luto
surge.
O
luto pode ser experimentado de diferentes maneiras. Você pode ser um Drashta,
uma testemunha, dele e isto é ensinado no Yoga.
Você pode usar uma técnica meditativa, como Antar Mouna, para descobrir
a causa real. Ou você pode praticar Swadhyaya (autoestudo) e analisar um estado no
qual você se sentiu desamparado ou sem esperança e ver quais opções há para
você superar e sair da situação.
Há
sempre escolhas no mundo. A escolha certa nos torna bem sucedidos na vida. A
sabedoria deve prevalecer onde somos capazes de fazer a escolha certa, não em
seguir a errada. Se há uma fotografia de você mesmo deitado no chão e uma
formiga vagar através dela, ela vai apenas ver manchas de cores, não sua face.
Da mesma forma, quando nós estamos envolvidos em uma situação, nós não vemos o
quadro todo, nós apenas vemos manchas. Nós estamos assustados por essas manchas
sem sentido e nós não sabemos como lidar conosco mesmos naquela situação. Isto
é conhecido como a força do prazer e da dor, do gostar ou desgostar. Nós
ficamos tão envolvidos que sentimos que nós somos parte daquilo, mas, sendo
capazes de nos observar, dando um passo atrás, isto é o conceito de Drashta.
Ser capaz de administrar situações e passar por mudanças, crises e luto com uma
mente otimista e positiva é Viveka. Viveka é lidar com a mente
com sabedoria, mantendo-se não afetado pelas diferentes influências.
Se
alguém diz que você é feio, ou bonito, essas palavras fazem uma diferença na
sua mente e você reage. Este é apenas um pequeno exemplo do efeito que as
palavras podem ter. Muitas outras coisas podem te afetar da mesma forma. Ser capaz
de manter o equilíbrio é Sanyam. Quando nós podemos manter uma atitude
de testemunho equilibrada, isto é conhecido como Vairagya, desapego. Nós
podemos estar cercados por dinheiro, e ainda assim não ter atração por ele,
estar cercados por pessoas e mesmo assim estar em total isolamento, estar no
mundo e não pertencer a ele.
O
exemplo clássico é o da flor de lótus. Ela cresce na água, é nutrida pela água,
é cercada de água, não existe sem a água, e mesmo assim, as folhas e a flor não
é afetada pela água e são absolutamente secas. É assim que um Yogi deve
ser. Um Yogi é como um mágico que é capaz de administrar o psíquico,
invisível e espiritual, o físico, material e sensorial e achar equilíbrio.
Fonte:
http://www.yogamag.net/