Por Swami Niranjanananda Saraswati
Ganga Darshan, 9 de Janeiro de 1999.
PARTE I
O tema da ecologia não existe de forma isolada. Ele
está conectado com a economia e com a indústria e, portanto é muito complicado
para as pessoas hoje em dia se tornarem ecologicamente conscientes. Na esfera
social, o ambiente é relacionado à indústria e ao comércio. Na esfera
individual, está relacionado à maneira como o sujeito percebe o ambiente no
qual se vive. Cada indivíduo ou se conecta ou se isola da natureza devido a
outras necessidades e vícios.
A chave é
o estilo de vida
Nossa relação com a natureza está conectada com
nossa atitude frente à vida de uma forma geral, quer estejamos felizes e
contentes ou insatisfeitos ou infelizes com nosso estilo de vida. Isso
refletirá o modo como vemos o mundo à nossa volta e se nós o respeitamos ou o
maltratamos.
Os Yamas (disciplina
social/autocontrole) e Nyamas (disciplina
pessoal) no Yoga são um indicativo
dessa interação intrapessoal com as leis da natureza e o transcendente. Saucha, por exemplo, o qual é definido
como limpeza, não é apenas individual, é também ambiental. Não é apenas questão
de higiene, é também se tornar responsável pela expressão e experiência da
beleza na vida e no meio ambiente. A beleza dá a luz à alegria e à felicidade,
esses são os resultados da beleza.
Se o jardim é bonito, isso também cria uma mudança
na atmosfera e no meio ambiente. Quando você caminha pelo jardim, o seu espírito
se eleva. A beleza do jardim é física, mas ao mesmo tempo ele também tem um
impacto no ambiente e no seu estado mental. Se a sua consciência lhe aponta que
deve fazer do seu lar, seu ambiente e o seu mundo um lugar belo, então esse é o
primeiro passo em direção a uma integração apropriada com a natureza. É o
entendimento da interação do indivíduo com a natureza, por um lado, e do
indivíduo com o divino, por outro, que o fará ecologicamente pleno.
PARTE
II - A chave é o estilo de vida
Há muitas dimensões para a ecologia – material e
espiritual. Nenhuma pessoa pode fazer a diferença em se tratando da ecologia
material, especialmente no que diz respeito às indústrias e comércios. Para
realizar isso, teríamos que modificar toda a estrutural legal e política de uma
sociedade. Então, sempre haverá alguma exploração. A mudança só pode vir do
nosso próprio estilo de vida. Uma mudança em nossa atitude pessoal e em nossa
interação com a vida é a única abordagem para modificar a forma como
compreendemos o mundo e os seus ecossistemas.
A ciência da ecologia está intimamente relacionada
com a sociedade humana e suas necessidades, as necessidades da indústria e do
comércio. O componente humano, o nosso entendimento da participação e
envolvimento humano na natureza é relativamente reduzido. Nós ainda nos vemos
de fora da ecologia e dos ecossistemas dos quais somos dependentes. Pode ser
que haja centenas de manifestações “verdes” diariamente envolvendo
milhares de pessoas, mas elas não farão a mínima diferença nas políticas implementadas pelas indústrias, pelo comércio
e pelos governos. Isso pode ser visto mundialmente.
PARTE III - Interdependência de todas as espécies
Ecologia é o estudo de como diferentes espécies e
aspectos da natureza podem trabalhar juntos e em simbiose. De acordo com
cálculos ancestrais, existem 8.400.000 espécies na natureza. Desde os tempos em
que cientistas começaram a registrar espécies distintas, foi afirmado que
aproximadamente 1.500 espécies entram em extinção todos os anos, espécies que
transitam pelos universos das plantas, dos animais, insetos e bactérias.
Atualmente, apenas 200.000 variedades de espécies foram registradas por
cientistas.
Na tradição Védica está colocado de forma bem clara
que a vida de uma espécie é disposta para o bem-estar de todas as outras. Todas
as 8.400.000 espécies no planeta vivem umas pelas outras, exceto uma. Uma
espécie vive por ela mesma e essa é a espécie humana. Se a espécie humana
também pudesse viver de acordo com as leis da natureza e em harmonia com as
outras espécies, o planeta se tornaria um lugar muito distinto para habitarmos.
É aí que a perspectiva Yogi sobre a
ecologia lentamente começa a se desenvolver.
PARTE IV - Interdependência de todas as espécies
Havia um tempo em que humanos também sustentavam a
natureza e a Terra. A tradição Védica
acredita que os mortos devem ser queimados e não enterrados. Não é uma crença
religiosa ou cultural. A tradição dos Vedas se opõem ao enterro porque os
corpos são sujeitos à diferentes formas de doenças. Quando se morre devido à
alguma doença, o vírus e bactéria mantém-se vivos no corpo. Quando o corpo é
queimado, as doenças também são extintas, mas se o corpo é enterrado, esse
vírus e bactérias se espalham na terra e afetam a água, as árvores e as plantas,
tornando o ambiente poluído e doente, eventualmente podendo contaminar até
mesmo o nosso alimento.
Na tradição Védica apenas os Yogis e crianças pequenas foram concedidas o direito do enterro. Os
corpos de crianças pequenas são tidos como puros. Yogis podem tornar o seus corpos puro através de Sadhana (prática). Portanto, não há mal
algum no fato deles serem enterrados, mas todos os demais devem ser cremados.
Essa é uma prática e crença ecologicamente consciente.
No cristianismo e islamismo essa crença não existe por
diferentes razões. Essas duas religiões se desenvolveram em lugares de deserto,
áridos e desolados no Oriente Médio. Não haviam árvores e, portanto, não havia
madeira, de modo que os corpos eram enterrados sob a areia. A qualidade da
areia e a intensidade do sol no deserto é tal que quando a areia torna-se
quente, é como um forno. Um grão de areia pode deter uma grande quantidade de
calor. Se um corpo é enterrado na areia, ele será, junto com seus vírus e
bactérias, destruído pelo extremo calor. O terra, contudo, retém muito menos
calor. Se um corpo é enterrado sob a terra, a bactéria se espalhará.
Em nossa ignorância nós incorporamos essas tradições
em nosso sistema religioso, embora apareçam situações em que um corpo não pode
ser queimado por razões “religiosas”. É o ápice da idiotice humana.
PARTE V - Benefícios de um estilo de vida natural
Existem muitas outras regras colocadas pela tradição
védica que são parte de nosso estilo de vida e que explicitam cuidado com o
meio ambiente. Quando uma cultura segue uma regra criada com o entendimento das
leis da natureza, então a cultura pode sobreviver qualquer ataque da natureza,
não importando quão devastador é a destruição.
Alguns anos atrás houve um estudo comparando o
potencial agrícola dos EUA, com uma população de 200 milhões e da Índia, com
uma população de 900 milhões. Com esse atual sistema de produção agrícola e
utilização de químicos, os EUA tem o potencial para alimentar toda a população
humana por 50 anos, na potência de sua terra. Na Índia, a qual sustenta 900
milhões de pessoas e tem as suas dimensões de terra menores que as dos EUA, a
terra agrícola tem o potencial para alimentar toda a população humana por 300
anos.
Qual o porquê disso? Os EUA é um país novo, de
aproximadamente 400 anos. Nós não sabemos a idade da Índia, mas racionalmente
falando a linha do equador já seria povoada dos tempos em que os humanos
pisaram na Terra pela primeira vez.
PARTE VI
A diferença é o estilo de vida. Se você adotar um
estilo de vida natural, vivendo de acordo com as leis da natureza e sem tentar
alterar as condições naturais, então você está mais ecologicamente consciente.
Quando está frio, você coloca um agasalho. Quando está quente, você retira suas
roupas. Mas se você tentar aquecer um quarto ou um prédio por meios
artificiais, então os químicos afetarão a atmosfera, como já está acontecendo
com o desmantelamento da camada de ozônio devido ao uso de aerossol e gases CFC
nos ar-condicionado e refrigeradores. Então, mais luxo e conforto vão na
contramão da natureza.
Por quê não ficar sem confortos momentâneos? Esses
confortos são necessidades artificiais, não necessidades reais. Necessidades
artificiais sustentam a indústria e o comércio. Você pode cozinhar seus
alimentos de uma forma mais simples, como nossa cozinha no Ashram, com carvão e madeira, ou você pode comprar um micro-ondas
para fazer comidas rápidas. O que acontecerá, então? Você perceberá que não tem
tanto tempo e que precisará fazer as coisas o mais rápido possível.
As pessoas tem muitas manias em relação ao tempo,
especialmente nos países modernos e industrializados. Eles trabalham de forma
árdua para suprirem as demandas das necessidades artificiais. Você pode viver
sem um micro-ondas. Na realidade, a comida é mais saborosa sem ele. O gosto, a
saúde e muitos outros benefícios são sacrificados pelo bem de uma comida
instantânea.
Cozinhar é uma alegria. Sente-se, descasque e pique
os legumes. Imagine como você irá preparar o alimento. O fluxo de informações
dos vegetais até você e o fluxo de sua interação com um alimento orgânico é uma
relação muito bonita. Se você não pode empregar uma hora por dia para cozinhar,
você perdeu a alegria de viver. Se você não pode tomar um banho frio no meio do
inverno sem pensar, “Ah, como eu queria ter água quente!”, então você não pode
aproveitar a sensação dessa água fria, a qual gera uma saúde melhor, estamina e
imunidade ao corpo.
PARTE VII - GOD: Geração, Organização e Destruição
Com todos os movimentos e teorias ambientais, uma
coisa é certa. A consciência cósmica é muito mais consciente do crescimento e
da destruição que toda a população humana. Se há um desequilíbrio em algum
lugar, a consciência da natureza irá lidar com isso. A única forma de fazer
isso é criando destruição. Esse é o conceito da trindade: GOD – Geração,
Organização e Destruição. Brahma, Vishnu
e Shiva (personagens mitológicos Hindus).
Geração e criação parecem estar completas em um
nível palpável, físico, mas a geração continua em um nível sutil.
Organização, manutenção e continuação estão acontecendo. Na realidade, os seres
humanos são parte da consciência de Vishnu
– preservar, manter e nutrir. Nós não temos a consciência de Brahma, o aspecto do divino, em nós. Nós
estamos na consciência de Vishnu - Organização.
Um encontro com Shiva é como um
acidente. Terremotos, tragédias e morte são encontros com D (Destruição). Isso
é Shiva. Quando quer que seja que
tenhamos tais encontros com D (Destruição), ele vem como um grande choque para
o nosso sistema.
Então, de um ponto de vista cósmico, nós estamos na
consciência de Vishnu e no nível de Tamas (estabilidade/inércia). Nós não queremos mudanças. Nós
estamos chocados e nos entristecemos quando vemos a natureza Rajasica (dinâmico) de Shiva, que vem e limpa tudo, vem e destrói tudo para que um novo
nascimento possa ocorrer. Essa é a forma como a natureza irá se curar e se
renovar do impacto da espécie humana.
Swami Niranjanananda |
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