sábado, 29 de março de 2014

O QUE É VIDA ESPIRITUAL? QUAL É O SEU PROPÓSITO E O QUE ELA INCORPORA?

A vida pode ser dividida em duas categorias: física e espiritual. A vida física pode ser Jada ou Chetana, insensível ou sensível, e isso é um processo de evolução. A vida física sensível começa como uma ameba e de acordo com o pensamento védico, o desenvolvimento completo de oitocentos e quarenta mil Yonis ou formas de vida, alcança o seu ápice com a forma humana.

A vida humana é a culminação da evolução da vida física assim como o mestrado é a culminação da educação ou a morte é a culminação da vida. Contudo, certos aspectos são comuns tanto para os seres humanos quanto para todas as outras formas de vida. Um deles é a fome. Todas as formas vivas requerem alimentação. Um inseto come, um elefante come, um porco come e você come. O segundo é o sono. Por certo tempo à consciência de toda forma de vida se move para o estado delta quer seja um cão, macaco ou pássaro. Mesmo o vento vai dormir!

O terceiro aspecto em comum é o medo. Toda forma viva experimenta medo e insegurança. Nos seres humanos o medo tem variantes como: o medo da morte, doença, calúnia, punição a críticas e assim por diante. Bhartrihari diz no Vairagya Shatakam (v.35):

Bhoge rogabhayam kule chyutibhayam vitte nripalaadbhayam.
 Nos prazeres sensuais há o medo de doença, do estado de queda, na afluência da ação.

A psicologia define várias categorias de medo. “Eu vou enfrentar calúnia.” é um tipo de medo. “E se minha filha foge com alguém!” é também um tipo de medo. Não há limite para o medo e todo mundo enfrenta isso.
O quarto instinto comum para todas as criaturas vivas é a copulação. O instinto sexual é o mesmo em todos os seres vivos; ninguém está livre dele. Esqueça sobre Kabirdas ou Ramakrishna Paramahamsa. Eles não eram seres humanos, eles não pertenciam à espécie humana. Eles pertenciam a espécies espirituais, que é sobre o que nós estamos falando.

Quando você entra na vida espiritual, muitas mudanças se sucedem. Você passa por cima dos instintos naturais de fome, sono, medo e sexualidade. Enquanto você estiver sob o controle das leis da natureza, eles vão se manifestando em você e isso é a vida material. Quando você segue as leis da natureza, você está vivendo uma vida material, uma vida mundana e limitada. No entanto, de acordo com Mahamaya, o poder da natureza manifestado, concedeu um presente único aos seres humanos. Ele disse:

Jnanam Narayanam ekaha visheshaha.
 A habilidade de conhecer o Supremo é um atributo especial (dos seres humanos).

Este é um direito especial que foi concedido a você. Jnanam significa saber. Saber o que? “Eu sou.” Saber que você e os outros existem; que ontem foi, hoje é e amanhã será; que uma certa pessoa é seu pai, seu avô, ou seu bisavô; que você está falando, ouvindo e entendendo. Jnana é o conhecimento desse processo. É o conhecimento do tempo absoluto, passado, presente e futuro. Jnana é “eu sei que eu sei que eu sou.”

Você está apto a entender o que eu estou falando, mas um cão não entende isso. Ele olha para alguém e late, mas ele não sabe por que está latindo. O comportamento de todas as diversas criaturas do mundo é influenciado por seus instintos naturais, inatos. Nós também nos comportamos e agimos de acordo com nossos instintos. Nossas lágrimas e choro são influenciados por nosso Swabhava, instinto natural. Contudo, o que nos define como seres humanos é que podemos mudar nosso comportamento através da inspiração do conhecimento.


A vida espiritual começa com uma questão: “Quem sou eu?” você começa a se perguntar: “De onde eu vim? Eu sou o corpo? Se assim for, eu vou morrer em certa idade, eu não vou mais ser. Eu sou então perecível? Os Upanishads dizem, ' Você é indestrutível.' Como eu posso ser indestrutível se eu posso morrer? Eles dizem, 'seu corpo não é indestrutível; você é indestrutível.' Quem sou eu, então?” Shankaracharya escreveu no Mohamudgar (v.22):

Kastvam ko'ham kuta aayaatah kaa me jananee ko me taatah; Itiparibhaavaya sarvamasaaram vishvam tyaktvaa swapnavichaaram.
 Quem é você, quem sou eu, de onde eu vim, quem é minha mãe, quem é meu pai? Esta é a essência de tudo. Desista desse mundo de sonho e pense sobre isso.

Esta é toda a vida espiritual. Rituais e adoração não constituem a vida espiritual. Essa é a vida religiosa. A vida espiritual significa o conhecimento do terceiro olho que o Supremo tem dado a você. Com esse conhecimento, encontre a joia do Atman (espírito, suprema consciência)  escondida dentro de você.

Você terá que participar da vida material. Não há outro caminho. Você terá que passar pela vida instintiva, mas faça essas perguntas: “Quem eu sou? De onde eu vim? Qual é o caminho até a minha chegada? Qual será o cais da minha partida?” Depois de assumir a forma humana, faça estas perguntas. É quando você vai entrar na vida espiritual.

Progresso material e espiritual

O progresso material e espiritual são dois lados de uma mesma moeda. Não há como separar os dois lados de uma moeda – você só pode indicar a cara e a coroa, você não pode separar a prosperidade material da espiritual. Dois termos diferentes foram atribuídos a eles, mas na realidade eles são dependentes um do outro.

Geralmente se acredita que quando o progresso material persegue uma pessoa, isso causa a sua queda. Contudo, eu acredito que se uma pessoa é capaz de realizar uma tarefa por meio do poder da sabedoria, vontade e dedicação, não será permitido a ela falhar. Se uma pessoa pratica Yoga Nidra (técnica de relaxamento profundo), Dhyana (concentração), qualquer outra Anushthana (pratica especifica por um período de tempo requisitado) uma prática fixa de Sadhana (prática espiritual ou disciplina realizada regularmente para a realização da experiência interior e auto-realização), ou Tapas, austeridade, ela aumenta o seu poder da mente, e então seja o que for ela empreende benefícios à raça humana. Nesse processo, a pessoa pode ganhar dinheiro, alcançar a fama e se tornar uma figura histórica, mas isso não importa.

Afinal, a pessoa que descobriu a eletricidade fez um bem imenso para a humanidade. A pessoa que descobriu que o som das ondas pode viajar beneficiou a raça humana imensamente. Os objetos do nosso uso diário foram criados por indivíduos. O quão alto deve ser a consciência mental das pessoas que nos deram essas coisas para o nosso bem-estar! Portanto, não podemos condenar a vida material. Para se destacar é preciso ter uma consciência espiritual que beneficie a todos.

Sri Swamiji
Satsanga realizado por Sri Swamiji no ano de 2000 em Rikhiapeeth.

Fonte: http://www.yogamag.net/

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